Os perigos
de misturar lixivia com amónia
É frequente pensar-se que uma
solução de lixivia com amónia resultará num excelente agente desinfetante,
desengordurante e branqueador. Se recordarmos que o gás cloro foi usado como arma
química durante a primeira Guerra Mundial e posteriormente pela Alemanha nazi
na segunda Guerra Mundial, os riscos para a saúde tornam-se mais aparentes. Este
artigo ilustrará apenas algumas reações que podem ocorrer quando se mistura
lixivia com amónia em várias proporções – a libertação de gás cloro é apenas
uma. Nos parágrafos seguintes o título será o nome do composto mais perigoso
produzido na reação mostrada. Não tente reproduzir nada disto.
Gás Cloro (Cl₂)
A lixivia de uso geral tem uma
formula química de NaOCl – isto é, um átomo de sódio (Na), um de oxigénio (O) e
um de cloro (Cl). A sua designação química é hipoclorito de
sódio. A ammonia
tem uma formula química de NH₃, ou seja, um átomo de nitrogénio (N) e três
átomos de hidrogénio (H₃). Quando estes dois compostos são combinados dá-se a
seguinte reação:
2(partes)NaOCl + 2NH₃ -->
2NaONH₃ + Cl₂.
Observe o Cl₂ no extremo direito
da reação. Isto significa uma parte de gás cloro formado por uma molécula
diatómica (dois átomos). Significa também que foi libertado gás cloro da lixívia,
muito plausível de causar danos quando inalado!
Para compreender os efeitos que o
gás cloro tem no organismo, precisamos compreender as suas propriedades
químicas, particularmente a sua valência, ou número de ligações químicas que
pode formar. O cloro situa-se no grupo 17 da classificação tradicional de
elementos, um antes dos gases inertes, os quais, como o nome sugere, praticamente
não reagem. O cloro tem sete eletrões na camada exterior de eletrões.
A Regra do Octeto estabelece que
todos os elementos tentam preencher a camada exterior de eletrões até que
tenham 8 eletrões. Quando um elemento químico tem oito eletrões na camada
exterior torna-se estável. Estando tão perto de ter oito eletrões na sua camada
exterior, o cloro está “desesperado” para conseguir aquele último eletrão e
destruirá literalmente outros átomos para o conseguir. Isso é precisamente o
que acontece ao nosso sistema respiratório quando inalamos gás cloro. O gás destrói
as vias nasais, a traqueia e pulmões, causando danos celulares massivos.
Obviamente, causa uma morte bastante dolorosa.
Tricloreto
de Nitrogénio (NCl₃)
Outra potencial reação, que
ocorre quando se mistura uma quantidade maior de hipoclorito de sódio que de
amónia, é a seguinte:
3(partes)NaOCl + NH₃ --> 3NaOH + NCl₃
Resultam hidróxido de sódio e
tricloreto de nitrogénio. O tricloreto de nitrogénio é um um químico muito
tóxico para os seres humanos, e mesmo que a aproximação fosse tal que
permitisse a ingestão, provavelmente explodiria antes disso, pois é um
explosivo muito volátil. Não me parece necessário explicar porque isto é mau!
Hidrazina
(N₂H₄)
Outra reação – desta vez em três fases
– pode ocorrer, produzindo hidrazina (um component de combustível para foguetões)
se houver mais amónia que lixívia:
NH₃ + NaOCl --> NaOH + NH₂Cl.
Estes dois compostos reagem,
então, com a amónia, da seguinte forma:
Uma última reação ocorre para
estabilizar os reagentes:
2(partes)NH₂Cl + N₂H₄ --> 2
NH₄Cl + N₂.
Esta última equação tem
particular interesse porque a quantidade de calor produzida é de tal ordem que levará usualmente a uma
explosão.
Em conclusão, a manipulação de
químicos é bastante perigosa principalmente se não soubermos o que estamos a
fazer. É por isso que uma das regras de ouro nesta atividade de limpezas é
nunca misturar solutos de características distintas, mesmo que nos pareça o ovo
de colombo. Havendo um conhecimento mínimo de química e das propriedades e
valências dos compostos envolvidos no processo permitirá ter noção da reação
que se espera. Não havendo, é uma roleta russa. Por exemplo, sabia que a simples
mistura de cloro com a água produz ácido hipocloroso (HClO)? Eis a reção:
É um ácido bastante instável e fraco mas com propriedades de desinfeção de pH entre 4 e 7.5. Pode parecer não ter qualquer importância mas, como todos sabemos os alcalis e os ácidos reagem quando em contacto. Na adequada seleção dos detergentes ou agentes químicos para fins de limpeza tem de ser considerada a superfície sobre a qual a ação irá ser executada. Ora, se as pedras calcárias (pedra calcária em geral e mármores) têm um pH perto do neutro a tender para o alcalino, reagirão, certamente, na presença de um ácido, dissolvendo as ligações dos carbonatos de cálcio provocando um aceleramento na erosão da pedra, resultante na perda de brilho, amarelecimento e abertura de poros.
A limpeza não é - permitam-me a expressão – um estúpido agarrado a um balde e uma esfregona. Nunca o foi e esse mito advém de um preconceito social ancestral. Mais do que nunca, é preciso saber o que se está a fazer. Só dessa forma podemos garantir que a nossa intervenção não provocará mais danos que benefícios a médio e longo prazo. Um adequado plano de higienização prolongará a vida das superfícies, preservando-as, garantindo um ambiente saudável, e a saúde dos intervenientes.
Artigo compilado por Luís Manuel Pinto Jordão
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O hipoclorito de sódio evapora mais rapidamente em presença de amônia?
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